sábado, 20 de outubro de 2012

O BRASIL, A NOVA CLASSE C E UMA AVENIDA NA FICÇÃO

Nina (Débora Falabela). Em segundo plano, Carminha (Adriana Esteves)
e a pequena Rita/Nina (Mel Maia). Foto: Divulgação
 
Agora que Avenida Brasil acabou vamos voltar à nossa realidade. Com esta frase, tem-se uma alusão sobre o que o poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu em sua coluna da Folha de S.Paulo, em 11 de julho de 1978, após o final da primeira versão de O Astro, de Janete Clair: “Agora que ‘O Astro’ acabou, vamos cuidar da vida, que o Brasil está lá fora esperando.”. No texto intitulado Novela total, Drummond expõe o que uma novela de grande repercussão faz com a opinião pública.  
 
Décadas depois, várias mudanças tecnológicas aconteceram na televisão brasileira. O seleto grupo de autores está se renovando. A imagem mudou. Estamos em uma era de alta definição. A televisão por assinatura abriu diversas possibilidades de opção para o telespectador mais exigente. Mas o produto, sim porque a televisão como empresa, considerada parte de uma indústria cultural, produz a novela como um produto, e aí temos o famoso merchandising, “o produto dentro de um produto”. Mas para que a propaganda dentro da novela seja bem sucedida, obviamente a história deve ser bem aceita para se justificar os altos pontos no Ibope. Embora Avenida Brasil ter abusado de  algumas inserções explícitas de merchan, quando algum personagem só faltava gritar que estava usando determinada marca. Isso soa falso e desnecessário. Em tempos que a medição do citado instituto de pesquisa já não corresponde como na época de O Astro de 1977, a recém-concluída novela das 21 horas já é indicada na mídia como um grande êxito. Basta detectar o que as redes sociais, ferramentas modernas de comunicação, capazes de criar conflitos em países árabes, dizem sobre a trama de João Emanuel Carneiro e equipe.

Muitas são as explicações sobre os “Oi, oi, ois” do Twitter ou no Facebook. Os comentários gerais sobre a novela no ônibus, no salão de beleza ou no bar se manifestam pela história que nos fascina. Hoje, com uma edição bem feita no computador, qualquer um pode ter sua imagem congelada igual aos dos efeitos que encerram os capítulos. O “gancho”, recurso de  prender a atenção do telespectador ao final do capítulo ou de um bloco, aliado à qualidade cinematográfica, direção precisa de atores renomados e afinados e uma direção segura fizeram com que a trama deslanchasse como há anos não se via. O “gancho”, na verdade, vem do folhetim do século 19 – a história parcelada em capítulos publicada em jornais, um artifício que aumentava a venda dos periódicos. E ligamos isso à atualidade.
As histórias parecem se repetir. A luta entre o bem e o mal. Mocinho e bandido. Vilãs perversas e mocinhas chorosas. A diferença e o valor de uma obra consiste no modo como ela nos é apresentada. Não vimos nada de novo em Avenida Brasil em termos de ingredientes narrativos, mas o sabor de acompanhá-la diariamente, apesar da famosa “barriga” (aquele momento em todas as novelas a história pouco muda e tudo parece enrolação), é o que mexe com o público e o faz torcer por este ou aquele personagem. Nina (Débora Falabella) não é mais aquela mocinha de outrora, que sofria nas mãos da vilã e só encontrava a felicidade no último capítulo. Aqui a mocinha também tem os seus defeitos. Nina é movida pela vingança. Ela precisou mentir, enganar pessoas queridas para atingir seu objetivo, o de destruir sua antagonista, Carminha. O brasileiro se identificou com Nina porque a vingança pode ser gerada em qualquer ser humano oprimido. Acompanhar a história parece ser um modo não de alienação, como muitos intelectualóides fundamentalistas preferem chamar o simples ato de assistir uma novela, mas um estado, mesmo temporário, de rejeitar a realidade perversa que o persegue.
E por falar em Carminha, as salvas para Adriana Esteves. Desde a Sandrinha de Torre de Babel (1998), é que não víamos uma Adriana tão vigorosa. Pelo seu desempenho, ela é apontada como uma das melhores atrizes do ano e tem grandes chances de levar os prêmios em 2013.
E destaques no elenco é o que não falta. Do lado dos veteranos, vemos um Marcos Caruso tão à vontade que somos capazes de encontrar um Leleco na esquina de casa. Aliás, um tipo representante de uma classe C que não abandona os hábitos suburbanos mesmo depois de enriquecer. Vera Holtz e José de Abreu, a personificação dos miseráveis. Uma Lucinda vivendo ao lado da ternura e da amargura. Um Nilo malandro, esfomeado, demonstrando tudo que a mágoa de ter sido traído pela mulher construiu durante sua vida. Juliano Cazarré fez de seu Adauto brilhar a cada capítulo, pontuando entre o patético romântico e ingênuo.  Dos estreantes, o que dizer da pequena Mel Maia (a Rita pequena), que mostrou uma segurança que poucos atores mirins conseguem passar nos primeiros trabalhos? Essa menina, se quiser, tem tudo para seguir o caminho de Glória Pires. E Cláudia Protásio, a impagável Zezé, que virou febre nas redes sociais, estrelando até vídeo viral produzido para o Youtube? Ela fez uma dobradinha perfeita com Carminha quando se aliou à vilã. Letícia Isnard, Cláudia Missura e até a volta de Betty Faria à Globo... Enfim, muitos se sobressaíram. Nem espaço tenho para tantas menções.
Alguns pontos negativos para João Emanuel Carneiro. O roubo das cópias das fotos que comprometem Carminha e Max (Marcelo Novaes). Uma bola fora em tempos de pen drive, email e outros recursos para armazenamento virtual de arquivos. Analfabetismo digital imperou aqui. O outro é como a personagem Jéssica (Patrícia de Jesus) foi mal aproveitada na trama. No início, para quem se lembra, ela morava no lixão e foi ajudada pela pequena Rita quando desmaiava de fome. Depois a dedurou para Nilo em troca de um par de sandálias. Já adulta, trabalhando na butique de Diógenes (Otávio Augusto) no Divino, apareceu em pouquíssimas cenas e seus diálogos eram mínimos. Jéssica poderia ter uma ligação no núcleo da nossa protagonista. Um erro para uma jovem atriz que teve experiências em novelas da Record e SBT.
Erros à parte, que não comprometeram a trama por completo, ressalta-se a maneira que o autor  retratou a classe C. Não uma depreciação, mas sim um espelho refletido, uma crítica através das polêmicas (e preconceituosas) opiniões de Verônica (Débora Bloch).  Ainda, quando esta nova camada social tem acesso à filmes alternativos. Lembra da cena do filme Noites de Cabíria, de Fellini, na casa de Tufão (Murilo Benício) e os comentários de Muricy (Eliane Giardini) durante a exibição do filme? Essa referência deixa claro que cultura é algo que não se adquire com o dinheiro, você deve ter o bom senso de obtê-la, independente de sua simpatia por este ou aquele gênero, com as condições que tiver.  Tufão que o diga. Ele experimentou a leitura de grandes clássicos da literatura brasileira e universal ao ser flagrado lendo por exemplo Franz Kafka ou Machado de Assis. Ao sugerir esses livros, a cozinheira Nina não estaria abrindo os olhos do milionário ex-jogador para que deixasse de ser um homem fraco e medíocre? Esta é ou não uma dica para essa nova classe que está emergindo?
Avenida Brasil se despede, com audiência muito satisfatória, com a destreza de mobilizar até campanhas políticas, desmarcar compromissos até então inadiáveis. E esperamos encontrar futuramente tramas igualmente instigantes, que estejam novamente na boca do povo. Novelas são entretenimento, sem dúvida, fazem parte da história da televisão. E provocam aquela sensação de cenas repetidas, mas o tratamento das obras é o que vai transformá-las em destaque nacional.
 
Fonte

Acervo Folha S.Paulo, 11/07/1978:
"Novela total", de Carlos Drummond de Andrade; Caderno Ilustrada, pág. 40:

 

Mais
Os livros que Tufão leu em Avenida Brasil:
 
O Idiota – Dostoievski
 
Dom Quixote – Miguel de Cervantes
 
Dom Casmurro – Machado de Assis
 
O Alienista – Machado de Assis
 
Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis

O Banquete – Platão
 
O Primo Basílio - Eça de Queiroz
 
A Metamorfose – Franz Kafka
 
Madame Bovary – Gustave Flaubert
 
A Interpretação dos Sonhos – Sigmund Freud
 
E até Mãe Lucinda surgiu lendo Alice no País das Maravilhas, de Lewis Caroll.
 



sexta-feira, 6 de julho de 2012

NA MORAL DE PEDRO BIAL

Por Rafael Lins

Foto: João Cotta/TV Globo















Ontem estreou o novo “programa do Bial” como anunciado nas chamadas da Globo. O formato é bastante interessante mas o conteúdo peca pela falta de profundidade ao abordar tais assuntos polêmicos. Na primeira edição, curta, de no máximo 30 minutos, se discutiram racismo, assédio moral, e o politicamente incorreto com direito a coro da plateia e do próprio Pedro Bial para as cantigas infantis “Atirei o Pau no Gato” e “Boi da Cara Preta” transformadas em “Não Atire o Pau no Gato, por que isso não se faz...” e “Boi do Piauí”. Mas nos perguntamos o que o próprio apresentador do BBB questionava: “mas o que tem o Piauí com isso?”.  E nós, telespectadores noturnos, o que nos interessa de fato num programa deste gênero?

Como convidados deste primeiro programa, a ex-Casseta e Planeta Maria Paula, o filósofo Luiz Felipe Pondé, o autor do livro “Politicamente Correto & Direitos”, Antônio Carlos Queiroz e o cantor Alexandre Pires, atacando de DJ e relembrando o caso em que fora acusado de racismo no clipe, de gosto duvidoso diga-se de passagem, de sua música “Kong” em que homens fantasiados de macacos dançam ao lado de mulheres de biquíni.

Ainda é cedo para fazer uma crítica mais segura, mas o pouco já visto pode-se lamentar a falta de tempo dedicada aos hábeis discursos de Pondé, o contrário do que acontece no bem-sucedido Café Filosófico, exibido na TV Cultura todos os domingos às 22 horas. Ou dos outros participantes resumidos por breves falas entremeadas com depoimentos e dramatizações dos temas abordados, uma delas com a atuação da atriz Adriana Lessa, marcando sua volta à emissora do Projac. O apresentador, que já cobriu a Queda do Muro de Berlim e as guerras do Golfo e da Bósnia com eficiência, no programa de estreia se aproximou mais de um animado professor de cursinho pré-vestibular no primeiro dia de aula do que um mediador de debates produtivos e descontraídos.

Aliás, descontração mesmo ficava a cargo da plateia, diferentemente do que ocorre com os espectadores no matutino Encontro com Fátima Bernardes, em que a própria se mostra segura e mais solta de quando estava na bancada do Jornal Nacional há um ano, mas lá os assuntos não são tão polêmicos como promete Bial e nem tão interessantes para serem despejados no horário  tradicionalmente reservado para as donas de casa que estão às voltas com o preparo do almoço ou de crianças que estudam no período vespertino.

O que se pode avaliar sobre o programa até o momento é que falta em Pedro Bial aquele jogo de cintura e naturalidade como observamos em Serginho Groisman ou Jairo Bauer ao lidar com plateias jovens e com assuntos diversos e bem mais polêmicos. Por enquanto, ficam as exposições poéticas do apresentador e sua experiência no comando de um reality show de puro entretenimento, apenas, que agora se lança em uma atração repleta de miscelânea de temas onde não se chega a conclusão nenhuma e nem a uma solução aparente. Mas como tudo está no início, ainda se pode consertar. A começar pela duração, que de meia hora poderia se alongar a no máximo  60 minutos. Dessa forma todos têm a “moral” de debater e expor seus pontos de vista, sem atropelos.


Programa: Na Moral
Quando: toda quinta, às 23h50
Onde: Rede Globo


Link do programa

http://tvg.globo.com/programas/na-moral/index.html



Chamada de estreia de Na Moral




Créditos do video no Youtube:

domingo, 15 de abril de 2012

UMA ESTRANHA CRIATURA EM DEFESA DA FLORESTA


Como transmitir uma mensagem de preservação do meio ambiente para crianças sem parecer uma aula maçante? Esse é o principal objetivo de O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida, filme de animação em 3D que estreou em março nas telas brasileiras.

Uma criatura peluda e de bigodes grandes chamada Lorax aparece para salvar as florestas formadas por árvores de trúfulas, alvo do ganancioso Umavez-ildo, que as utiliza como matéria-prima de um tecido multiuso (desde blusas até chapéus incrementados). Vivendo em uma cidade onde tudo é artificial, exceto as pessoas, o menino Ted tem a missão de replantar essa espécie de árvore e trazer de volta a natureza destruída por homens inescrupulosos como o Sr. O’Hare, que industrializa o ar puro em garrafas e faz com que a população dependa sempre de seus produtos.

Dos mesmos produtores de Meu Malvado Favorito (2010) e Hop – Rebelde Sem Páscoa (2011), o filme é baseado no conto O Lorax, do Dr. Seuss (o mesmo escritor de O Grinch), publicado em 1971. As vozes originais são de Zac Efron (Ted), Danny DeVito (Lorax) e Taylor Swift (Audrey, dublada no Brasil pela atriz Mariana Rios).

A animação é uma tentativa divertida de despertar a consciência ecológica na garotada da geração Y.



Ficha Técnica
Título no Brasil: O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida
Título Original: Dr. Seuss' The Lorax
País de Origem: EUA
Ano de Lançamento: 2012
Estreia no Brasil: 30/03/2012
Direção: Chris Renaud e Kyle Balda
Elenco: Vozes de Zac Efron, Danny DeVito, Ed Helms, Taylor Swift, Betty White, Willow Smith, Rob Riggle, Sherry Lynn.
Gênero: Animação
Tempo de Duração: 86 min.
Classificação: Livre
Estúdio/Distribuição: Universal Pictures
Site oficial: www.oloraxofilme.com.br


Trailer


Fonte: www.adorocinema.com

Foto: guiadasemana.com.br

segunda-feira, 2 de abril de 2012

IMAGEM DA SEMANA: MILLÔR FERNANDES

"Viver é desenhar sem borracha."
Millôr Fernandes (1923-2012)

Homenagem ao desenhista, humorista, dramaturgo,
escritor e tradutor brasileiro.
Foto: Ricardo Moraes/Folhapress

sexta-feira, 23 de março de 2012

A GENIALIDADE DO RISO


O fazer rir, ser cômico, é tão difícil. Eu realmente fico impressionado como tem pessoas que só falando já são engraçadas sem nem ter a intenção de ser. Mas existem aqueles que nascem com um dom. E dom, como os espiritualistas acreditam, é algo divino, sublime.

E Chico Anysio entrou no hall daqueles que já chegam com o dom. Sua capacidade de caricaturar tipos tão próximos do cotidiano brasileiro é tão fantástica que já ultrapassou a marca de 200 personagens. E cada um com tipo diferente de voz, entonação, tiques, bordões. E estes não tem como esquecer: “É mentira, Terta?”, “Pô, mãe, eu sou jovem!”, “Eu faço a cabeça do João Batista ou não me chamo Salomé”. “E o salário, ó!”, este saído da boca de seu mais famoso personagem, o Professor Raimundo, expressando através do humor a realidade do profissional que luta para uma educação digna mas não é valorizado como deveria. Fato é que a crítica pelo riso é um caminho que poucos buscam trilhar com maestria. Mas existem outros que quando trilham, beiram ao mau gosto e ao preconceito.

Cresci vendo Chico e até hoje, vendo a reprise de seus programas, fico admirado como ele permitia que seus colegas brilhassem ao seu lado. Os coadjuvantes ou os chamados “escada” são tão essenciais para os programas humorísticos que sem eles a piada esvazia, se torna fria. Ele foi um dos poucos que me faziam chorar de rir, ou lembrar de uma piada quando não é o momento e soltar uma risada inesperada.

Se lamentável foi o modo como Chico partiu, mais lamentável ainda é como seu trabalho foi sendo reduzido a pequenas participações nos últimos anos, mesmo quando ainda tinha uma saúde não tão delicada. Embora fosse ator e se destacasse nas novelas, naturalmente este formato não era o ideal para si.

Hoje, Chico deixa um legado de um trabalho brilhante, intenso, inteligente. Deixa-se espaço para outros tipos de comédia, outros tipos de talento que não devem menosprezar este que além de humorista era pintor, compositor e escritor.

Se Chaplin era internacionalmente reconhecido com um só personagem, Chico Anysio é tão genial quanto a ponto de suas criações serem reconhecidas por todo o país. Dois gênios de áreas distintas mas com o propósito único: a habilidade da crítica pelo riso. Eu o considero um Camaleão do Humor Brasileiro. Além do humorista, vai embora o espelho do povo brasileiro.


Acima, Chico Anysio na pele de Popó. Foto: Divulgação.


Abaixo, um trecho do Programa Chico Total, de 1996, com o quadro Jornal do Lobo, uma paródia do Jornal Nacional.




Créditos do vídeo: Baudatv

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

VOLTANDO A ESTE VELHO BLOG

Estou de volta, depois de sete longos meses. Esse tempo foi necessário para que eu pudesse dar conta dos produtos jornalísticos, uma disciplina do curso de jornalismo, e do estágio no Detran de São Paulo. Confesso que a vontade de escrever ficou adormecida durante esses meses. As ideias ficavam passeando em minha mente, misturadas com a ansiedade de entregar os trabalhos e o estresse da rotina no estágio. E nada de ir pro papel, ou seja, pra tela branca do computador.

Escrever era preciso. Mas como redigir quando as ideias são uma miscelânia entre crônicas ou roteiros de cinema ou TV. Ah, esqueci de dizer que essas áreas que eu gostaria muito de adentrar. Quando mais novo, fiz uns manuscritos bem imaturos de algumas histórias que criei, e que estão guardados no fundo da gaveta de minha velha escrivaninha, que jocosamente chamo de "herança de D. Pedro I". O móvel tem estilo, de madeira resistente, mas acho que não se adapta ao ambiente lá de casa, pois deixou o quarto que não ocupo menor do que já está, depois de uma longa reforma ainda inacabada.

Espero que eu não volte a abandonar este velho amigo, pois as visitas serão menos frequentes devido ao TCC, o qual o considero não como um filho, como muitos preferem chamá-lo, mas sim como uma escultura na qual devo trabalhar a forma.

Como bom perfeccionista que sou, a forma está longe de ser aquela que penso ser ideal. Além de uma escultura, o TCC é um túnel cuja luz está bem distante, mas que no caminho você é guiado por lanternas (as ideias). Às vezes elas precisam de pilhas novas (motivações) pra escrever. E o que mais me faz continuar apaixonado pelo tema que escolhi são os exemplos que encontro em cada livro achado nas prateleiras das bibliotecas da cidade.

Em breve postarei o tema do meu TCC, depois que ele estiver bem definido e menos complicado. Pra quem está enforcado quanto à escolha do tema fica uma dica: se o projeto do TCC não está lá aquelas coisas, reescreva!


Foto: site Gratisonline.com.br

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

NOSSOS VIZINHOS E HERMANOS

Um pouco de Buenos Aires, em quatro dias

Em janeiro, estive durante duas semanas visitando dois países, Argentina e Paraguai, vizinhos, e integrantes do Mercosul [Mercado Comum do Sul, bloco econômico criado em 1991 do qual participam também o Brasil, Uruguai, e mais recentemente, em 2006, a Venezuela]. A palavra Mercosul já está incluída nos novos passaportes emitidos no Brasil.


Nos quatro primeiros dias estive na Argentina. Assim que desembarquei no Aeroporto Internacional Ministro Pistarini, localizado no município de Ezeiza, a 30 minutos de Buenos Aires, comecei a acreditar realmente estar em outro país, minha primeira viagem internacional, depois de 1h30 de avião. A começar pelos veículos que estacionavam na entrada do aeroporto, cujas as marcas e modelos eram desconhecidos por mim no Brasil. Comecei a reparar as pessoas, a língua, e pensei que encontraria dificuldades em me comunicar, mesmo falando o mínimo de espanhol, e tal rapidez com o qual os argentinos conversavam, poderia me deixar confuso e perdido.


Me hospedei no centro de Buenos Aires num hotel de 4 estrelas, aparentemente antigo, mas que depois de algumas reformas, se tornou aconchegante. O prédio pequeno, de nove andares, fica nas esquinas das ruas Tucuman e Reconquista, esta também que dá o nome ao hotel. A rua Reconquista em muito lembrava as estreitas ruas do centro de São Paulo, como Direita e São Bento, mas bem mais conservada e organizada do que estas. Como cheguei num sábado, o movimento estava calmo, numa curiosa tranquilidade. Estava aberto apenas alguns restaurantes, dentre os muitos existentes a cada esquina da capital argentina.


Logo no táxi, pude ver de perto os cartões postais que eu só conhecia através da TV ou da internet. A avenida 9 de Julio, seria uma mistura das avenidas Paulista e Faria Lima, mas em maior extensão. As calçadas espaçosas e bem arborizadas e os milhares de letreiros, outdoor espalhados pela cidade me fizeram acreditar que realmente estava em outro país. Sou contra poluição visual, mas acho que esta Lei Cidade Limpa deveria ser um pouco mais branda e permitir a instalação de alguns letreiros, que poderiam deixar São Paulo tão charmosa quanto Buenos Aires.


Em falar em publicidade, muitos produtos vendidos aqui também são comercializados lá. Alguns com um nome bem diferente, como marcas de produtos de limpeza, sucos, sabão em pó. Não foi difícil me adaptar à língua. Ao assistir TV no hotel, consegui entender as propagandas e filmes legendados, como também os noticiários e programas de variedades. Outra curiosidade é ver um episódio do Chaves e do Chapolin, em espanhol, que pra mim era totalmente inédito no Brasil ou foi exibido quando eu ainda era bebê.

Ser patriota, para um argentino, é algo tão comum quanto sua paixão por futebol. Basta olhar cada janela de uma casa ou edifício comercial que logo entendemos que não basta ser Copa do Mundo para pendurar um bandeira nacional na janela. Mesmo que a flâmula esteja gasta pelo tempo, ela ainda resiste nas fachadas, seja no centro ou nos bairros mais afastados.



E por falar em futebol, pude ver a imponência do estádio La Bombonera, do Boca Juniors, time imortalizado pela figura do ídolo Diego Maradona, cuja a imagem está espalhada em quase todos os cantos de Buenos Aires. Localizado no bairro La Boca, famoso por abrigar o Caminito, uma rua-museu que abrigou espanhóis e italianos, cujas as casas foram pintadas de várias cores, utilizando tintas que sobraram da pintura de navios.






Puerto Madero é um centro financeiro, onde se investiu na gastronomia e lazer, e se tornou mais um dos pontos turísticos portenhos. Vários restaurantes e bares têm como vista o canal que tem na outra margem os prédios mais modernos da região. Uma atração bem conhecida é a Puente de la Mujer (Ponte da Mulher), inaugurada em 2001.

E não poderia esquecer de mencionar o maior incentivador do tango pelo mundo, Carlos Gardel (1890-1935). O bairro Abasto, onde fica sua casa, hoje transformada em museu, é a região que abriga um dos maiores shoppings da capital argentina. Lá também é conhecida a Esquina de Gardel, uma casa de espetáculos especializada neste tipo de dança e frequentada por turistas de várias partes do mundo.

E para encerrar nossa viagem na Argentina, não posso me esquecer de Evita Perón. Sua escultura pode ser vista na praça que leva o seu nome, na Avenida del Libertador, no bairro de Recoleta. Curiosamente, a estátua mostra, segundo a guia turística, Evita correndo, como se estivesse fugindo de seu destino trágico - morrer com apenas 33 anos, vitimada por um câncer uterino.

Outro monumento tão interessante e altivo quanto é a Floralis Generica, que fica na Praça das Nações Unidas. Toda feita de aço inoxídável, pesa 23 toneladas e mede 18 metros de altura. Por um sistema elétrico, automaticamente, ela abre todas as manhãs às 8 horas e fecha ao pôr do sol. Segundo o arquiteto que a projetou, Eduardo Catalano, seu nome significa que o monumento pertence à flora e generica, porque representa todas as flores do mundo.

Buenos Aires, apesar de situada na província de mesmo nome, não é a sua capital, mas um distrito federal autônomo. A moeda circulante no país é o peso argentino.


O novo e o velho Paraguai

Depois de quatro dias na Argentina, desembarquei em Assunção, capital do Paraguai. Tudo o que eu imaginava sobre o Paraguai (uma terra onde só se compra mercadorias a preços muito baixos com o real), mudou ao pisar em solo vizinho. É de encher os olhos o vasto chaco, formado por campos planos e vegetação baixa, utilizando em grande parte para criação de gado.

Assunção é uma cidade que está crescendo, mas está longe de ser tão grande quanto São Paulo ou Buenos Aires. Se de um lado vemos prédios novos, mansões, lojas de grifes famosas e indústrias multinacionais investindo no país, por outro a infraestrutura ainda deixa a desejar, principalmente nos meios de transporte, como ônibus e táxis. Ambos circulam em péssimas condições, que é possível ver de longe suas latarias enferrujadas. Um contraste com os carrões importados que transitam pelas ruas pouco conservadas.

E sem contar na fiscalização sanitária. Estive em um supermercado, dentro de um dos maiores shoppings da cidade, e abismado, observei larvas do mosquito da dengue, nadando livremente em vasos de vidro expostos próximos ao caixa. Chamado o "fiscal de loja" o problema foi resolvido, porém, no dia seguinte, lá estavam novas larvas. O mais impressionante foi ver em um telejornal paraguaio a notícia sobre os mais de 100 casos de dengue registrados no país somente no mês de janeiro, com 2 mortes oficiais. É triste saber que a saúde pública paraguaia está vulnerável a qualquer epidemia.

Mas o que mais me encantei foi a simpatia do povo paraguaio (a cada esquina tomando seu tereré - bebida feita de erva-mate, parecida com o nosso chimarrão, mas consumida gelada) e de como eles gostam dos brasileiros. Tanto que é possível ouvir facilmente pagode, sertanejo e MPB no comércio local. E por falar em comércio, roupas de grife, eletrônicos, calçados e tantos outros produtos podem ser comprados pela metade do preço do que seria em real no Brasil. Para se ter uma idéia, um chinelo que no Brasil custaria 10, 12 reais, em Assunção você o encontra por 15.000 guaranis, ou seja, aproximadamente 5 reais. Não é à toa que estrangeiros como chineses, judeus e europeus estão de olho no Paraguai. Mas tem de ficar atento às falsificações e artimanhas de vendedores que empurram mercadorias de baixa qualidade ao cliente mais distraído.

O Paraguai tem tudo para progredir, se houver mudança real na economia para valorizar o guarani, a moeda paraguaia, acabando com a corrupção também existente por lá e o tráfico de drogas. Que se invista em educação de qualidade e melhores condições de saúde. Que venha a modernidade, mas que a cultura do país continue preservada, assim como suas belezas naturais.

O Paraguai é comandado por uma república presidencialista. Os idiomas oficiais são o espanhol e o guarani, a língua indígena da América do Sul.
Fotos: Rafael Lins